Pra me fazer lembrar

 Engraçado.
Chegou novembro e não via outra coisa a não ser dias ensolarados. O céu mantinha-se completamente azul e completamente sem nuvens. Já não existiam aqueles dias cinzas – aqueles lindos dias cinzas – que fazia lembrar teus olhos.
Eu estava te esquecendo. Inclusive teus olhos.
Como num susto, ontem eu lembrei de você. Fazia tanto tempo... uma sensação gostosa nasceu dentro de mim. Já havia me esquecido de como me sentia quando pensava em você.
Nesse dia não havia dia cinza algum.
Mas uma bela noite estrelada enfeitava o céu. Bastou para eu lembrar das noites não dormidas em que o manto escuro da noite com estrelas bordadas era nosso cobertor. Bastou para eu lembrar teu sorriso, claro.
Mas não bastou para lembrar teus olhos.
Logo, esqueci de você, de novo.
E de sacanagem, só para me fazer lembrar, hoje começou a chover. Um céu completamente prateado estendeu-se pelo céu enquanto caminhava na chuva. Eu vi o céu mudando de cor. E naquele momento passava em frente de uma pequena padaria, e misturou-se com a densa chuva aquele delicioso aroma de pão francês fresquinho que você tinha todas as manhãs.
Só de sacanagem aconteceu tudo isso só para me fazer lembrar de cada pedaço de você: teu sorriso, teu cheiro e, finalmente, teus olhos.
Chovia, como no dia em que nos conhecemos e você pegou na minha mão.
Lembrava de teus olhos, teu sorriso, teu cheiro, mas não lembrava teu toque, o calor da sua pele contra a minha.
E mais uma vez, só para me fazer lembrar, senti um leve calor apertar minha mão diante daquela densa chuva. Meu coração deu um salto. Um grande guarda-chuva pairou sobre minha cabeça e uma voz grave e tranqüila disse meu nome.
Eu sabia. Bastava virar-me para lembrar de você por inteiro.
Virei-me.
E era você.
Finalmente era você.

Super beijinhos,

Hoho'n